Na semana passada, publicamos um breve resumo sobre os resultados divulgados pelas Companhias Abertas no segundo trimestre do ano.
Hoje vamos trazer alguns pontos sobre os resultados dos bancos que ajudarão, ou não, a responder essas perguntas.
Diferentemente do primeiro trimestre do ano, quando foi o único grande banco que não apresentou aumento nas despesas com PDD (provisão para devedores duvidosos), o Santander acabou aumentando suas provisões no segundo trimestre, o que acabou derrubando seu lucro em 40% em relação ao mesmo período do ano passado. Os lucros do Bradesco e do Itaú apresentaram a mesma queda, também impactados pelo PDD. Banco do Brasil também aumentou essas despesas, com o lucro caindo 25% na mesma base de comparação.
Vale destacar que não ocorrendo a perda com a inadimplência, as provisões podem ser revertidas para o resultado. Isso acarretaria em um ganho não recorrente no futuro, cenário que consideramos bem factível dado o conservadorismo (louvável) nas provisões realizadas agora.
No que diz respeito à rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE), o comportamento foi muito parecido. Como era de se esperar, a queda dos lucros levou à quedas bruscas do ROE das instituições. Banco do Brasil veio com 11,9% (de 17,7% no 2T19), Bradesco com os mesmos 11,9% (de 20,6% no 2T19), Itaú com 13,1% (de 22,9%) e Santander com 11,5% (de 21,1%). O ponto que consideramos importante de destacar é que mesmo em meio à pandemia, com quedas fortíssimas nos lucros, a rentabilidade do setor segue bastante acima da média do mercado.
Entre lucros e prejuízos, o ROE médio das empresas que compõem o Ibovespa está próximo de 3%. Se tirarmos os bancos dessa amostra, a rentabilidade cai para pouco mais de 1%. É claro que essa rentabilidade tão baixa das empresas do Ibovespa ocorre em função do prejuízo que algumas reportaram, o que impacta o número final. Por outro lado, fica evidente a resiliência dos resultados dos bancos. Mesmo enfrentando uma das piores crises que a economia mundial está passando, o setor segue lucrativo e extremamente rentável.
Nem tudo são flores
Discutimos a lucratividade e a rentabilidade dessas instituições. Pontos que o mercado usou para justificar parte das suas quedas mas que não vemos com um viés tão negativo, mas sim sob uma ótica realista. Por outro lado, há um aspecto que parte do mercado pontuou como positivo e nós acendemos um sinal de alerta.
O índice de inadimplência reportado pelos bancos se manteve praticamente estável e em patamares próximos de 3% para Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander. Ora, se as provisões aumentaram tanto, ao ponto de derrubarem tanto os lucros, como a inadimplência segue em patamares baixos? A resposta está na renegociação e na postergação do prazo de pagamento de dívidas com os clientes. Dessa forma, como não é necessário pagar agora, a inadimplência não ocorre. Ao menos nesse momento.
É importante nos mantermos atentos a esse aspecto porque a inadimplência irá ocorrer. Quando o não pagamento das dívidas aumentar (e irá), há uma probabilidade alta do mercado “penalizar” as ações em função da piora do índice. Isso não necessariamente indicará a piora da qualidade dos ativos, e sim a realização de um fato previsto.
Para finalizar vamos à resposta à pergunta inicial. Na nossa visão, nem uma coisa nem outra. As quedas que estão sendo verificadas, ainda mais considerando o desempenho das ações em um prazo mais longo, são exageradas.
Os bancos seguem lucrativos, estão adotando a política conservadora que o momento exige e seguem rentáveis. Deveriam estar sem queda no ano ou até com valorização? Não. O momento é delicado, os resultados serão impactados (como estão sendo) e seguirão sofrendo ainda por mais um tempo.
Alguma queda é justificada, pois os resultados de 2020 e de parte de 2021 serão afetados. No entanto, vale destacar que a geração de valor para o acionista não ocorre somente nesses períodos, e sim por muitos e muitos anos. Mesmo que os resultados nunca voltem aos patamares anteriores, cenário que consideramos muito improvável, ainda assim o setor vale mais do que os preços mostrados no nosso home broker.
Por fim, vale destacar que não fizemos a avaliação dos resultados do BTG por esse não ser um banco de varejo e ter uma atuação diferenciada dos demais.