. . Carta do Gestor: o cenário de curto prazo

Nesta Carta falaremos sobre o cenário de curto prazo, considerando brevemente o ambiente dos últimos meses. Além disso, resumiremos em tópicos os principais temas econômicos de 2020 na nossa visão, e faremos algumas considerações iniciais para 2021. Divulgaremos nossas projeções para 2021 na carta de janeiro.

Das preocupações de Outubro para o Otimismo de Novembro

Em outubro, o mercado oscilou bastante e teve queda em função da preocupação com a segunda onda de Covid-19 e possíveis restrições novamente. Além disso, havia preocupação com o resultado das eleições norte-americanas e, por consequência, dúvidas quanto ao rumo da política econômica dos EUA. Quanto ao Brasil, os números mostraram atividade sendo retomada, mas ainda com desemprego elevado e inflação pressionada. Ademais, seguiu-se a frequente preocupação em relação à força da economia após a redução (ou retirada) dos estímulos fiscais em 2021 e, relacionado a isso, o receio quando ao desempenho das contas públicas, o famoso “risco fiscal”. Assim, o Ibovespa recuou -0,7% em outubro, assim como os índices de bolsa de outros países. O índice fechou o mês cotado aos 93.952 pontos (ver tabela 1).

Já em novembro, o otimismo tomou conta do mercado. O Ibovespa teve elevação de 15,9% no período (ver gráfico 1), a maior alta desde março de 2016, quando a alta foi de 17%. Os resultados positivos quanto a eficácia dos testes com algumas vacinas e o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos dando a vitória ao Democrata Joe Biden animou os investidores estrangeiros, que renovaram seu apetite ao risco, voltando a aplicar seus recursos em países emergentes como o Brasil. O ingresso líquido foi de R$ 33,32 bilhões em novembro, a maior entrada de recursos desde o começo da série histórica. No acumulado do ano, porém, o dado foi negativo até o fim de novembro em R$ 51,56 bilhões. Além dos fatores citados, outro motivo apontando nas análises do mercado foi a rotação das carteiras, beneficiando setores que estavam “atrasados” ou que se beneficiam de um crescimento maior da atividade econômica (ver tabela 2). Assim, o Ibovespa encerrou novembro com cotação de 108.893 pontos.

Gráfico 1 – Variação percentual mensal do Ibovespa e do dólar

Tabela 2 – Variação percentual de índices selecionados do mercado financeiro brasileiro

Na sequência, listados os principais tópicos de 2020 no mundo e no Brasil.

2020

Mundo

-Alta liquidez internacional.

-Estímulos fiscais e monetários sem precedentes. O que significa dívidas em alta.

-Melhora dos indicadores de atividade, mostrando retomada da economia global, mas desigual Recuperação em “V”em diversos setores.

-Inflação – tivemos um forte choque de oferta, o que levou a alta dos preços no atacado, principalmente das commodities, pressionando especialmente os preços dos alimentos.

-Segunda onda de Covid. Em alguns casos já considera-se que exista terceira onda. Em outros, como o Brasil, fala-se que a primeira onda não foi finalizada.

Brasil

-Diversos setores apresentam recuperação em “V”.

-Agropecuária e indústria retomou mais rapidamente, mas diversos segmentos ainda estão abaixo do nível pré-crise.

-Setor de serviços retomando mais lentamente.

-Dólar mais elevado em função de questões domésticas (risco fiscal, juros mais baixos se comparado ao histórico brasileiro e em relação aos concorrentes emergentes, questões políticas, crescimento lento por vários anos etc).

  • -Inflação pressionada por câmbio, falta de matéria-prima e maior demanda gerada pelo “coronavoucher”.
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  • Pela tabela do Relatório Focus divulgado no último dia 07 de dezembro, é possível observar a inflação esperada pressionada, com IPCA projetado em 4,21% no acumulado de 2020, acima do centro da meta do Banco Central (4%) e IGP-M em com incríveis 24,09% de alta no mesmo período. Ademais, queda projetada do PIB está em 4,4% para esse ano, revertendo projeções mais pessimistas da metade do ano, que chegavam projetar o recuo próximo aos 10% da economia brasileira.
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  • Logicamente, essa queda menor um preço: deterioração das contas públicas. Algo que está sendo tolerado no curto prazo no mundo e no Brasil, pois o coronavírus é um inimigo único e, que em tese, não é um culpa de um governo, de um banco ou de qualquer outra instituição. Por isso, justificou-se arsenal fiscal e monetário pesado. Mas isso significa descuidar do lado fiscal? Claro que não. As reformas devem ser prioridade em 2021, sobretudo a administrativa e tributária. Voltaremos a esse assunto na carta de janeiro.

A temporada de divulgação de resultados do terceiro trimestre de 2020 (3T20) trouxe surpresas positivas. De um modo geral, as empresas apresentaram resultados crescentes, confirmando algumas sinalizações trazidas nos números do segundo trimestre do ano.

Um setor que gostamos muito e tem apresentado bons números é o de siderurgia e mineração. A fim de ilustrar seu desempenho, fizemos alguns comentários sobre os números de Gerdau e Vale.

A Gerdau demonstrou alguns sinais interessantes de recuperação da economia. Impulsionada pelo dólar, preço do minério de ferro, crescimento expressivo de demanda da construção civil e indústria, além da retomada de unidades que estavam paralisadas por conta da pandemia, a companhia teve um trimestre bem positivo.

A empresa reportou resultados bem fortes quando comparado com o 3T19 e mais ainda quando comparado com o 2T20, reflexo da retomada do setor de infraestrutura, com projetos como pontes, ampliações de linhas de metrô e etc, assim como a indústria, com o segmento de autopeças principalmente. A construção civil também surpreendeu positivamente, demonstrando forte demanda no Brasil onde o consumidor durante a pandemia optou por fazer pequenas reformas em suas residências ou até mesmo realizar a aquisição de imóveis mais amplos. Vale lembrar que a maior demanda também ocorreu pelo efeito de reposição de estoques das empresas, que vinham esperando maior clareza sobre o cenário econômico. O mesmo pode-se dizer sobre as operações nos Estados Unidos, onde o setor de construção também apresentou dinâmica parecida.

O segmento de aços especiais também apresentou recuperação no 3T20 quando comparado com o 2T20. O setor automotivo no Brasil vem mostrando recuperação gradativa na produção de veículos leves, pesados e máquinas agrícolas. Nos EUA o setor ainda sofre com uma demanda menos aquecida.

A receita líquida da companhia atingiu R$ 12,2 bilhões, com alta de 23% ante o 3T19 e de 40% ante o 2T20. O ebitda somou R$ 2 bilhões, aumentando 68% frente o 3T19 e 46% em relação ao 2T20. Por fim, o lucro líquido foi de R$ 795 milhões (+175% sobre o 3T19 e +152% contra o 2T20). O indicador dív. líq/ ebitda encerrou o trimestre em 2,07X.

A Vale também apresentou um resultado muito robusto no trimestre. O desempenho da empresa foi favorecido pelos maiores volumes de vendas e pelo aumento de preços do minério de ferro.

A produção de minério de ferro da Vale atingiu o patamar recorde de 88,7 milhões de toneladas. A produção vem em patamares de 1 milhão de toneladas por dia desde julho, apresentando ótima consistência. Um ponto a destacar é o nível de ferro no minério extraído pela vale, que atingiu 63,5%, reforçando o seu destaque na qualidade do seu produto. Minérios de menor qualidade geram uma eficiência maior na produção de aço e, consequentemente, um impacto ambiental menor.

Os maiores volumes de produção ajudaram na diluição dos custos fixos, compensando o aumento dos preços do frete marítimo. Um ponto que merece atenção está relacionado às vendas. Apesar de terem crescido, o volume vendido pela companhia está em patamares inferiores à produção. Dada a qualidade do seu minério, acreditamos que esse aspecto não acarretará em aumentos expressivos de estoques.

A receita líquida da Vale somou R$ 57,9 bilhões, com crescimento de 42,4% e 43,2% em relação ao 3T19 e 2T20, respectivamente. O ebitda atingiu R$ 32,8 bilhões, com elevação de 79,1% ante o 3T19 e 81,2% ante o 2T20. O lucro líquido foi de R$ 15,6 bilhões, com alta de 138,7% na comparação com o 3T19 e de 195,2% frente o 2T20. A dív. Líq./ebitda está em 0,3x.

Por fim, agradecemos por investir conosco. Esse ano não foi e não está sendo nada fácil, mas conseguimos ótima recuperação em nossos fundos, sempre com foco na preservação do capital e busca por rentabilidade, mas não a qualquer preço, investindo em ativos da “moda”. Ao contrário, nossa alocação é baseada em fundamentos macroeconômicos e microeconômicos sólidos sem espaço para teses mirabolantes que surgem em momentos de euforia do mercado, como o do mês passado, chamado de “novembro mágico”. Feliz Natal e ano novo. E sigam se cuidando e protegendo seus familiares, pois a pandemia segue, mas com perspectivas animadoras quanto à vacina para continuar contendo o avanço do coronavírus em 2021 e nos próximos anos.




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