O desempenho dos bancos representa um importante balizador quanto ao cenário e as expectativas da economia brasileira. Além disso, o setor é um dos mais representativos do Ibovespa, índice da bolsa de valores, B3, que reúne as ações de companhias mais negociadas.
Dados setoriais divulgados recentemente apontam retomada do crédito para pessoa física e jurídica nos últimos meses, o que reforça expectativas de retomada da economia. E eles vêm acompanhado de níveis de inadimplência controlados até agora. Mas será que isso reflete o desempenho econômico e financeiro das companhias do setor? E que perspectivas podemos traçar a partir deles?
Após o fechamento do mercado, no dia 10 de fevereiro, o Banrisul divulgou seu resultado referente ao quarto trimestre e ao consolidado de 2020. Na avaliação do analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller, veio bom, dentro do possível para este cenário. Um resultado que mostrou crescimento em relação ao terceiro trimestre de 2020, e superou as expectativas do mercado, bem acima, especialmente em relação ao lucro. A inadimplência acima de 90 dias ficou na faixa de 2,3%, comportamento bem semelhante aos outros bancos. As metas divulgadas para 2021 não são agressivas, mas não são fracas também. “De forma geral, me pareceu um resultado bom, interessante”, resumiu.
Na semana passada, começaram as divulgações de resultados do setor. E os principais players desse mercado foram os primeiros da lista. Itaú Unibanco, Santander e Bradesco detalharam seu desempenho. Carlos Müller resumiu o quadro desenhado até agora, e que representar o desempenho do setor de maneira geral.
O Itaú apresentou um desempenho abaixo do que o mercado esperava. Teve um lucro forte, mas os resultados mostraram que os custos estão aumentando, e o banco não está conseguindo repassar, ou seja, não teve um aumento de receitas de serviços equivalente. A companhia vem fazendo ajustes de agência, tem diminuindo os custos fixos, mas ainda não está se refletindo em resultados. E o mercado achou que ele está agindo um pouco devagar. A carteira de crédito do Itaú está extremamente conservadora, o que ajuda a reduzir riscos. Ele está focado em empréstimos imobiliários e consignado, que são empréstimos de menor risco.
A inadimplência, não só do Itaú, como dos outros bancos, segue baixa, mas os indicadores de mais curto prazo estão mostrando uma elevação. Hoje a inadimplência do setor está na faixa de 2.1%, mas pode subir 0,5 pontos percentuais nos próximos trimestres. Esse é um dado que deve ser monitorado. Possivelmente essa inadimplência vai subir, não vai ter uma disparada violenta, mas voltará para patamares de 3,1% até 3,5%.
O Santander foi um banco que trouxe um resultado forte, mas veio um pouco abaixo da expectativa do mercado, mais ou menos em linha. Foi um resultado bom, mas não teve grande destaque, porque o Santander, ao longo do ano passado, foi o menos conservador, tanto em provisões para perdas como na própria carteira de crédito. Então, ele foi mais arrojado. Por isso, ele ter tido um crescimento de lucro forte já era esperado. E foi esse o comportamento que ele teve. Portanto, teremos que monitorar os próximos trimestres para ver como será o comportamento da inadimplência em cima da carteira de crédito do Santander.
O Bradesco trouxe um resultado muito bom. Veio muito forte, cresceu acima do que o mercado esperava. Tendo uma expansão, especialmente, no segmento de serviços e seguros. Ele teve diminuição de custos. O Bradesco fechou muitas agências ao longo do ano passado. Fez esse ajuste. A inadimplência está muito controlada e a carteira de crédito é bem conservadora. Então, o Bradesco veio com o “melhor dos mundos”. Ele teve crescimento de lucro e está se mantendo com um risco bastante controlado, o que é muito positivo.
Ao longo dos próximos dias e até o final de fevereiro, haverá a divulgação de outros bancos, como o BTG e bancos menores. A expectativa é que esses resultados não venham muito diferente do que os grandes privados já apresentaram. A tendência é uma inadimplência baixa, indicando elevação, crescimento de resultados, diminuição de provisões para perdas, porque os bancos já fizeram provisões fortes ao longo dos primeiros trimestres de 2020. Isso pode resultar em um crescimento do lucro. No entanto, possivelmente será um lucro menor do que no quarto trimestre de 2019.